Trechos do livro:
INTRODUÇÃO
Mais importante
que o máximo é o suficiente.
“O caminho de Santiago foi,
durante séculos, um caminho de conversão e de extraordinário
testemunho de fé”
(Papa João Paulo II aos jovens, em 1989).
(...)
E, pensar em
Deus é buscar a sabedoria, presente em toda a obra da criação, o
universo, a natureza, tão perfeita que parece simples, cândida,
frágil, por ser harmônica e gratuita, mas que encerra todo o
conhecimento, toda a ciência, é o que existe de mais perfeito para o
homem, pois nela há justiça e paz; é o enlevo do peregrino
reintegrado na obra do Criador, imerso na bruma da fria manhã, no
sussurrar do suave mover das águas dos regatos, no mavioso canto do
passaredo, imperturbável com o farfalhar das folhas do outono que
formam o imenso e belo tapete amarelo-avermelhado sobre o qual pisam
as botas peregrinas.
Peregrinar rumo a Santiago de Compostela é viver a suficiência de
mais um dia a cada dia, quase sem nada a mais do que o pensamento...
em Deus.
(...)
AS ETAPAS
De passo em passo se faz o caminho
Preliminares
Tomar conhecimento do Caminho – por
reportagens nos meios de comunicação, livros a respeito do assunto,
relato de alguém que já o fez ou até publicidade de agências de
turismo – é o seu primeiro passo. A idéia vai amadurecendo, às vezes
leva anos até que se chegue ao planejamento da peregrinação. Sim, é
necessário planejar: quanto tempo?, o que é necessário? quanto
custa?, que época fazê-lo?, sozinho(a) ou acompanhado(a)? desde
onde?
(...)
Belorado
Dia
23/11/2202, sábado: 9ª etapa, 22,4 km, difícil.
O dia amanheceu chovendo, e eles se atrasaram em sair do albergue,
esperando que o tempo melhorasse um pouco. Por conta desse atraso,
foram expulsos dali pelo hospitaleiro, que se mostrou impaciente e
grosseiro. Quando saíram, a chuva havia diminuído de intensidade e
conseguiram fotografar a catedral com sua bela torre. O céu se abriu
por alguns instantes e o sol apareceu, mas o tempo piorou adiante,
justamente quando estavam chegando em Grañon. A chuva caiu forte e
tiveram que se abrigar no refúgio dessa cidadezinha, onde foram
muito bem recebidos pelo pároco-hospitaleiro e por um peregrino que
ali estava preparando o almoço. Fizeram um lanche, comendo biscoitos
e tomando café com leite oferecido a eles. Esperaram o tempo
melhorar, e quando saíram ainda chovia um pouco, mas o sol saiu de
novo quando já estavam no caminho. Porém, novamente voltou a chover,
e a chuva, o vento e a lama tornaram o restante da etapa muito
cansativa. Finalmente, chegaram ao refúgio, ali encontrando a
hospitaleira, Javier, o peregrino pessimista, e Pedro, que dormia
sob cobertas num canto escuro de um dos quartos. Mais tarde, chegou
outro peregrino, que havia feito uma longa etapa de cerca de 38 km
no dia. As instalações do refúgio eram bem simples, mas o calor
humano oferecido pela hospitaleira francesa Marie fez tudo parecer
melhor. Estavam cansados, mas, após fazerem seus asseios, saíram
para participar da missa na catedral local, dali indo comprar alguns
alimentos, para preparar o jantar: sopa, “pasta”, pão e “zumo de
melocotón”.
A Maria adoeceu. Primeiro queixou-se de dores nas costas, então
fomos ao posto de saúde local, onde uma médica jovem e atenciosa
diagnosticou cansaço e dores musculares causadas pelo peso da
mochila de Maria. A médica receitou um antiinflamatório e analgésico
em comprimidos, repouso e diminuição do peso da mochila. O
medicamento foi doado pela própria médica, não sendo necessário
comprá-lo. Já de volta ao refúgio, Maria reclamou de resfriado e
sentia o corpo febril. Tomou o remédio receitado pela médica. Após o
jantar, fiz-lhe uma pequena massagem nas costas, deitou-se e logo
dormiu. Acho que chegamos ao limite do corpo. Maria estava esgotada.
Fazia muito frio, cerca de 4° C. Então, decidi, sem consultá-la e
enquanto tomava estas notas, que no dia seguinte seguiríamos de
ônibus até Burgos.
(...)
“Amigo peregrino, tens-te animado a
dar uma olhadela neste folheto; pode ser que estejas interessado em
orar um pouquinho a sós. À tarde/noite o faremos em comum, mas
talvez queiras fazê-lo agora, individualmente...” (Extraído do
folheto beneditino “Quieres orar um rato a solas?”, encontrado no
Caminho). |